quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Poesia: A Acauã de novo ilustra triste seca no sertão.

A acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Gustavo Henrique S. A. Luna

Quente vento viperino
Zangado, maltrata o peito
Do agricultor direito
Filho do chão nordestino
Suportando o sol a pino
Tem triste constatação
Quando ressoa a canção
Da ave que muito assusta
A Acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Dói-lhe ver tudo que planta
No chão ficar escondido
Feito menino parido
Já morto, sem esperança
Dói o peito, a fé alcança
A cruel conformação
Da morte de seu torrão
Que é sofrer que não se susta
A Acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Arde a vontade de ter
Um curral grande pendido
Gado muito e bem nutrido
Muita coisa de comer
Sem muito se abater
Sempre recorda a feição
Da morte fincada ao chão
Que é a caveira que assusta
A Acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Sem ter a quem recorrer
O agricultor não espera
Na terra em que a morte impera
Não há nada que nascer
Ora pensando em ceder
Largar de vez o torrão
Ir em busca doutro chão
Quer viver de forma justa
A Acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

A tarde vai-se acabando
Quer testar o cupinzeiro
Da chuva adivinhadeiro
Um punhado tateando
A sorte se afastando
Não é boa indicação
Só lhe mostra sequidão
Da terra que é injusta
A acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Passa um dia e outro dia
Sem a barra a despontar
Confirmando o seu penar
É o Natal sem alegria
Consolando a sua cria
Depois da adivinhação
Não quer mais riscar o chão
Pois a chuva muito custa
A acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Já não são pedras de sal
O recurso predileto
Do céu investiga o teto
Em busca de menos mal
Canta a ave infernal
Do agouro a propagação
Voa pelo seco chão
A pouca fauna se assusta
A acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Vê um inseto serrando
O galho dum juazeiro
Prometendo bom janeiro
A chuva fica esperando
Pelas terras vai andando
Em busca doutra visão
Não percebe a ilusão
Dessa mentira robusta
A acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

O bicho que o enganou
Certamente outro besouro
Imagem que valeu ouro
Mas que agora passou
O serra-serra escutou
Fruto da imaginação
Fez amargo o coração
Sentimento que o frustra
A acauã de novo ilustra
Triste seca no sertão

Corpo lasso e sol grosseiro
compartilham a imagem
Da ave que traz coragem
Da borrasca o mensageiro
O tetéu surge ligeiro
Renovando a emoção
Da chuva a ressurreição
À ave agourenta expulsa
A acauã não mais ilustra
Triste seca no sertão

(por Gustavo Henrique S. A. Luna)

 

Comentário: Este é o meu primeiro poema colorido. Tinha-me enveredado bastante por outros caminhos; fazia, no mais das vezes, prosa e, experimentando, uma ou outra poesia cinza. Obviamente, há nestes versos a marca do desazo de quem se iniciou às décimas. Inicialmente, litigando com a rima e com o metro, fui trazendo, pouco a pouco, ao fim a poesia. O tema surgiu-me por acaso; entrei a escrever estrofe e a parelha final deu-me o mote. Espero que não seja tão desagradável a minha estreia e que me surjam mais temas para que, perscrutando o legítimo, o cerne, o íntimo, possa desatar o nó que ainda se prende à cor dos versos meus.

7 comentários:

  1. É o Gustavo de Dedé (nome artístico do poeta!) kkkkkkkkkkkkk
    Excelente começo Guga, tem talento pra rima mesmo e estava bastante inspirado! Parabéns.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Grande Gustavo de Dedé....
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Excelente poesia Gugão...Parabéns cara! Procure enveredar-se pelo caminho dos versos coloridos, como sua própria denominação já explicita,tais versos deixam mais alegre e mais divertida a leitura!

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  4. Parabéns Gustavo....
    vc tem muito talento!torço por vc...

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  5. Agradeço aos amigos as palavras de incentivo. Vou continuar amealhando coragem e disposição para postar, por estas bandas, o que fizer em poesia.

    Abraço.

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  6. O poema é perfeito, estou fazendo um trabalho sobre esse pássaro nordestino e seu poema foi escolhido para estar em meu trabalho. Parabéns pelo talento, nos ajudou muito!!!

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  7. Agradeço o elogio, Bárbara. Que bom que pude ajudar.

    Saudações.

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A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.