sábado, 9 de janeiro de 2010

Gramática: Duas questões de sintaxe.

     Em 25 de dezembro, respondi a duas questões de sintaxe trazidas por um dos membros do fórum Só Português. A primeira delas trata da significação da preposição para, e a segunda aborda regência verbal. Apesar de simples, as questões permitem breve revisão de alguns temas importantes da gramática escolar. A todos os que fruem das breves revisões gramaticais e do roteiro de estudo que se traça a partir delas, desejo-lhes bom proveito do que está escrito abaixo.

 

"A sentença de Peter Johnson é, para mim, um modelo de racionalidade porque estigmatiza a certeza independentemente do objeto de crença."

10) Assinale a alternativa em que o termo para expressa a mesma circunstância que no trecho.

a) Dedicou-se muito para passar no exame.
b) Embora fosse sempre para a praia, aquela vez era especial.
c) Trouxe para ela um lindo buquê de flores.
d) Para quem estuda, as provas parecem ser mais fáceis.
e) Para agradá-la, não precisa muito, basta ser gentil.

 

Olá, ***. A preposição para introduz adjunto adverbial de opinião, fato que, para alguns, parece incoerente. Os que estranham essa classificação certamente apoiam a ideia de que o termo introduzido por essa preposição é, em verdade, dativo de opinião, ou seja, espécie de complemento verbal por extensão de significado. As gramáticas escolares insistem em que esse termo introduzido por para seja adjunto adverbial de opinião. Siga-se então o que dizem esses livros. Abaixo estão as análises de cada item.

a) Em Dedicou-se muito para passar no exame, a preposição para é índice de função que introduz oração subordinada adverbial de fim. Pode ser substituída por preposições de mesma categoria sem prejuízo de sentido à frase (... a fim de passar no exame).
b) Em Embora fosse sempre para a praia, aquela vez era especial, a preposição introduz adjunto adverbial de lugar. Seria até mais coerente empregar, nesse caso, a em vez de para, pois esta conjunção indica que a estada no lugar de destino é permanente ou duradoura, e aquela sugere que não se gastará muito tempo no lugar a que se dirige.
c) Em Trouxe para ela um lindo buquê de flores, a preposição introduz complemento verbal. Por sinal, esse é um dos poucos casos em que o objeto indireto pode ser introduzido por para. A função de objeto indireto fica clara por poder-se substituir para por a, ou ainda por ser possível a substituição do termo para ela pelo pronome lhe (Trouxe a ela um lindo buquê de flores, Trouxe-lhe um lindo buquê de flores).
d) Em Para quem estuda, as provas parecem ser mais fáceis, tem-se que o termo introduzido por para é dativo de opinião ou oração subordinada adverbial de opinião. Há também quem a veja como oração completiva nominal, por integrar o sentido do adjetivo fáceis. Não se pode condenar nenhuma dessas análises, posto que são todas bem argumentadas. Claramente, vê-se então que é esta a opção correta.
e) Em Para agradá-la, não precisa muito, basta ser gentil, a preposição, como na letra a, introduz oração subordinada adverbial de fim; a seguinte substituição esclarece bem essa verdade: A fim de agradá-la, não precisa muito, basta ser gentil.

 

19) Assinale a alternativa em que a regência verbal está correta, segundo a norma culta.

a) Ele afirmava, aflito, que sempre desejou ao bem de sua filha.
b) Não convenceu a ninguém com o que dizia.
c) Esse foi o caso que me referi durante nossa conversa.
d) São fatos de que todos já se esqueceram há tempos.
e) A decisão coube de um importante juiz.

 

Veja-se agora o tema da próxima questão. É necessária, de imediato, pequena correção sobre o que é, ou deixa de ser, norma culta. Não convém a ninguém definir norma culta, e é muito menos pertinente julgar se um ou outro discurso pertence a ela. O que existe, em verdade, é a norma padrão, que é o modo de escrever usado em textos oficiais e em ocasiões seletas que a exigem. Feitos os esclarecimentos, dou continuidade à questão com as explicações abaixo.

a) Estaria tudo certo se não fosse aquela preposição intrometida em ao. O verbo desejar, na acepção em que aparece, é transitivo direto.
b) A regência de convencer, com acepção de persuadir, diz que esse verbo é transitivo direto. Pode o verbo ser transitivo direto e indireto, sendo, no entanto, o objeto indireto introduzido por de e representado por coisa (fato, ideia etc.). Exs.: Jorge não convenceu a plateia; Joaquim convenceu Maria de que tudo daria certo.
c) O verbo referir-se exige sempre objeto indireto introduzido por a. Desse modo, escrevem-se corretamente Todos se referiam aos acontecimentos recentes, O livro a que Mariazinha se referia não estava à venda, etc. Está claro, portanto, que faltou um a antes do pronome relativo, que tem evidentemente função de objeto indireto.
d) Está tudo correto na opção dê. O verbo esquecer-se, diferentemente de esquecer, exige sempre objeto indireto introduzido pela preposição de. Exs.: Não nos esquecemos do dia em que fomos premiados, Ele esqueceu-se de agradecer-lhe o presente, O palestrante esqueceu o que falaria, etc. Marque-se esta opção.
e) Bom, o verbo caber, na acepção de competir, pertencer, é transitivo indireto, mas não rege objeto indireto introduzido por de. Esse complemento verbal deve encerrar a preposição a. A frase correta seria A decisão coube a um importante juiz.

Espero que te tenha esclarecido as dúvidas, ***. Bons estudos e feliz Natal.

Isso é tudo.

Abraço. Até outros tópicos.

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A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.