domingo, 12 de julho de 2009

Gramática: As demais questões comentadas do concurso do TRE-MA (CESPE) – 2009.

     Como havia prometido, trago as demais questões de português comentadas, do concurso do TRE-MA (CESPE), realizado em 21 de junho de 2009. Há questões de mais de um caderno; algumas pertencem a provas de mais de um cargo. Para que não haja tanta confusão, tomei dois cadernos que contêm todas as questões que faltavam: o caderno Z e o lambda. Seguem abaixo os links dos cadernos e o comentário das questões restantes.

• Provas:
- Caderno Z.
- Caderno lambda.

• Comentário das questões restantes:

- Caderno Z:

1.ª Questão) A única opção que apresenta incorreção gramatical é a bê. Rigorosamente, há dois erros: um de paralelismo sintático e outro de concordância verbal. No aposto diferença entre o custo de captação e juro cobrado no empréstimo, referente à palavra inglesa spread, não se deu muita importância ao paralelismo porque não se empregou o artigo definido antes de juro, para que assim houvesse a simetria entre os termos coordenados. Alguns gramáticos são mais brandos quanto ao paralelismo, evitando até tratar do assunto em suas gramáticas. A incorreção mais grosseira, no entanto, é o emprego da forma tem, em vez de têm. O sujeito elítico é da terceira pessoa do plural; basta atentar na flexão do verbo bastam, que inicia o período. Para que haja concordância, é necessário que o verbo ter também se flexione na terceira pessoal do plural, assumindo a forma têm.

Gabarito: letra bê.

2.ª Questão) Na letra a, há erro crasso no emprego da vírgula. Vale lembrar que não se devem separar termos integrantes com vírgula. Assim, não se justifica a vírgula após o verbo contribuir; a oração introduzida pela preposição para é subordinada substantiva objetiva indireta reduzida de infinitivo. Poderiam pensar alguns que para introduz oração adverbial, ideia que não é coerente porque ocorre esvaziamento do significado de tal preposição; ela apenas contribui com a transitividade indireta do verbo contribuir, que, por sinal, pode reger complemento indireto introduzido por para ou por com. No caso, só seria possível o emprego de para. Na letra bê, pecou-se por falta de vírgula. Deve-se lembrar que, quando deslocadas, as orações subordinadas adverbiais devem sempre vir separadas por vírgulas. O trecho seria mais bem escrito assim: “As mais prejudicadas, como era previsível, foram as pequenas, as médias e as microempresas”. A letra cê está impecável quanto à pontuação. A letra dê traz enunciado obscuro, com empregos injustificáveis de ponto-e-vírgula e de vírgula. Quando ocorre adjetivo ou advérbio em grau comparativo de superioridade, havendo oração subordinada adverbial como segundo membro da comparação, esta não deve ser separada por vírgula. Também não há necessidade do emprego do ponto-e-vírgula; repare-se que não existem orações coordenadas e que adjunto adverbial por causa da concentração foi separado do sintagma a que pertence como determinante: a oração subordinada adverbial comparativa. Não se deve colocar vírgula antes da conjunção e, que, nesse caso, coordena os núcleos do predicativo do sujeito. Não creio ser necessária a vírgula que isola o termo na capacidade de emprestar, que, visto como adjunto adverbial de situação (v. Moderna Gramática Portuguesa), está em sua posição normal dentro do período. O trecho corretamente reescrito fica assim: “Nesta crise, esses bancos são menos numerosos do que já foram por causa da concentração e também os mais prejudicados na capacidade de emprestar”. Na letra e, repete-se o mau emprego de vírgula antes da conjunção e, que coordena orações de mesmo sujeito, e comete-se outra incorreção famosa: separar, com vírgula, termo integrante, que é representado, nesse caso, pela oração substantiva objetiva indireta reduzida de infinitivo a aplicar dinheiro em certificados de depósito emitidos por esses bancos. O trecho corrigido fica assim: “O Governo identificou o problema e tomou medidas para estimular os poupadores a aplicar dinheiro em certificados de depósito emitidos por esses bancos”.

Gabarito: letra cê.

3.ª Questão) Na letra a, a proposta de substituição de por ser por uma vez que é, fazendo-se os ajustes descritos na opção, pode ser adotada sem que haja corrupção dos preceitos gramaticais. A conjunção uma vez que também é causal, entretanto só introduz oração desenvolvida, o que exige a mudança das formas verbais ser e ter para é e tem. Quanto ao que se diz na letra bê, é, de fato, possível a substituição de mas por porém, contudo, todavia e no entanto, também conjunções adversativas. Quanto ao que se diz na letra cê, ocorre realmente a elipse da expressão o preconceito racial, que funciona como sujeito, obviamente elítico. Sobre a letra dê, realmente, a crase deve-se à regência do nome transitivo respeito, que exige complemento nominal introduzido pela preposição a, e à presença de artigo feminino plural, ocorrendo assim a contração às, resultante da fusão da preposição com o artigo. Sobre a letra e, a locução conjuntiva bem como é coordenativa aditiva, não indicando, portanto, circunstância de fim ou de qualquer outra natureza; essa locução costuma aparecer em correlação com palavras que pertencem à oração anterior, o que reforça a noção aditiva do que é tratado em uma e outra oração coordenadas. Esta opção está, portanto, errada.

Gabarito: letra e.

4.ª Questão) Questão que não oferece muita dificuldade a quem com ela depara; basta um pouco mais de atenção, o que é facilitado por leitura não muito rápida. O problema está na letra dê, bem naquela palavrinha que está flexionada no feminino, lá no finalzinho do período. Trata-se de próxima, que tem como referente (determinado no sintagma) a palavra estoque, de gênero masculino, com a qual deve concordar em número e em gênero.

Gabarito: letra dê.

5.ª Questão) Trata esta questão, essencialmente, de aspectos da sintaxe. Acerca do que se diz em a, é sabido que uma das principais características do uso de vírgula, se não a mais evidente, é realizar a separação de termos coordenados, numa enumeração. A vírgula que, no texto, se pospõe ao nome Rússia obedece justamente a esse princípio, separando esse substantivo de Índia. Vale lembrar que, numa coordenação em que não se reitera a conjunção aditiva e entre cada termo coordenado, não se deve empregar vírgula entre os dois últimos termos da coordenação, pois, nesse caso, a conjunção e exerce o papel que lhe é próprio: o de coordenar. Por exemplo: escreve-se ao lado de Rússia, China e Índia em vez de ao lado de Rússia, China, e Índia, forma incorreta. A opção tratada é, pois, a correta. A letra bê afirma, incorretamente, que a oração que afligem a sociedade é subordinada adjetiva explicativa. Importante, perceber que a informação nela contida não é acessória, ou secundária, à determinação do substantivo males; em verdade, tal oração é fundamental ao entendimento da qualidade dos referidos males, ou seja, a oração restringe a significação do substantivo, diferençando-o de outros males que existem. A oração discutida é, na realidade, adjetiva restritiva; está, pois, errada a opção bê. Veja-se atentamente o que se diz na opção cê; o emprego de dois-pontos se justifica, no caso, por motivo diverso daquele apresentado na opção. Esse sinal de pontuação é empregado para indicar que, após ele, vem um aposto; equivale, pois, a uma vírgula. O aposto a que me refiro é burocracia e corrupção, que se refere a dupla severa. Nada tem a ver, nesse caso, o emprego de dois-pontos com a presença de citação, que, por sinal, sequer existe no texto. Na letra dê, afirma-se que o pronome se é índice de indeterminação do sujeito; está errada a afirmação, porquanto, para que seja o se índice de indeterminação, o verbo a que se prende não pode ser transitivo direto, como o é alimentar, na acepção que assume no texto. Ora, o sujeito está expresso pelo relativo que, referente a duas doenças terminais de qualquer sociedade! Também não dá cabimento o contexto à interpretação de que o se seja partícula apassivadora. Atente-se em que as duas doenças terminais não são alimentadas por nada, ou seja, o verbo alimentar não está em voz passiva. Na realidade, uma alimenta a outra e vice-versa; ocorre aqui reciprocidade da ação. A voz verbal é recíproca, e o se é um mero complemento direto do verbo. O que torna ainda mais clara essa noção de reciprocidade é a presença do advérbio reforçativo multuamente. Pelo que foi analisado, a opção dê está errada. Atente-se no que é dito na opção e, há algo interessante nesta letra, que também está errada. É importante que ao leitor lembre a prática da indeterminação de um substantivo pela omissão do artigo que se lhe empregaria. Escrever Não somos a favor de injustiças sociais não equivale, a rigor, a escrever Não somos a favor das injustiças sociais, visto que o artigo tem o papel distintivo da determinação. Não há, porém, incorreção gramatical ao fazer-se tal mudança. O mesmo ocorre à oração presente na última linha do editorial do periódico pernambucano, ou seja, empregar ou não o artigo definido não torna o período gramaticalmente incorreto. Está errada, portanto, esta última opção.

Gabarito: letra a.

- Caderno lambda:

1.ª Questão) Questões assim, de interpretação textual, não exigem tanto; a resposta está, claro, no texto. O que se tem de fazer é depreender bem as informações nele contidas. A tática de resolução mais lógica e coerente, a meu ver, é a comparação do que é dito em cada opção com o que está presente no texto, após, obviamente, ter-se lido todo ele. Veja-se o que se diz na opção a: nela se afirma peremptoriamente que a Lei do Estágio inibiu a oferta de vagas, por terem aumentado os encargos das empresas. Em nenhuma parte do texto, foi escrito que houve, de fato, inibição da oferta de vagas; o que está escrito é que se levantaram algumas poucas vozes, à época da apresentação da Lei do Estágio, que temiam que o aumento dos encargos às empresas inibisse a oferta de vagas, fato que, em nenhum momento do texto, aparece como concretizado. A letra a está errada por tornar real o temor de algumas poucas vozes. Na letra bê, a afirmação nela contida pode ser confirmada pelo trecho final do texto, em que se diz que a Lei do Estágio “foi saudada, principalmente pelos estudantes, cansados de passar o dia em atividades banais pouco instrutivas ou de trabalharem mais de oito horas diárias, sem décimo terceiro, INSS, FGTS, férias”. Esse trecho revela, evidentemente, a insatisfação da grande maioria dos estudantes com o estágio antes da promulgação da nova lei. Está correta a opção bê. A letra cê afirma, em essência, a informação corrigida da opção a, ou seja, afirma que algumas poucas vozes contrárias, à época da apresentação da nova lei, temiam que houvesse redução da oferta de vagas, ou seja, temiam “que houvesse restrição na contratação de estagiários”. Está correta a letra cê. A letra dê contém uma das informações mais evidentes do texto, presente, por sinal, no discurso do ministro do trabalho, Carlos Lupi, que afirma que o maior objetivo da nova lei é “proporcionar a milhões de jovens estudantes brasileiros os instrumentos que facilitem sua passagem do ambiente escolar para o mundo do trabalho”. Está correta a letra dê. A letra e contém, semelhantemente, uma informação que está bastante clara no texto; basta recorrer ao segundo período do terceiro parágrafo, em que se diz que “entre elas [as mudanças e as normas], destacam-se a limitação da jornada diária para seis horas, ...”. É evidente, portanto, que a letra e está correta.

Gabarito: letra a.

2.ª Questão) Esta questão, também simples, exige de quem a resolve conhecimentos de concordância verbal, de análise sintática e de referentes semânticos dentro de um texto. A letra a afirma basicamente a regra de concordância de verbo antes de sujeito composto, que diz que o verbo concorda com o núcleo mais próximo (concordância atrativa), ficando no sigular, ou com todos os núcleos (concordância lógica), indo ao plural. Então, no texto, o emprego da forma singular destaca-se não acarretaria incorreção de concordância verbal; é, portanto, igualmente correto empregar a forma singular. Está correta a letra a. A letra bê afirma que o referente semântico do sujeito elítico ela, que faz concordar no feminino a locução foi saudada, é oferta de vagas, o que não é verdade, pois a referência se faz, em verdade, a nova lei, termo que inicia o último parágrafo. Está errada a opção bê. A letra cê está correta; é fácil perceber, pela flexão verbal no feminino do particípio, que Promulgada em setembro de 2008 se refere a a nova Lei do Estágio. Quanto ao que se afirma na letra dê, o termo Carlos Lupi é, de fato, aposto explicativo, pois, tendo valor substantival, retoma intrinsecamente o significado de seu referente ministro do trabalho. Vale lembrar que aposto explicativo é sempre separado por uma ou duas vírgulas, dependendo da posição do termo no período. Se estiver no meio do período, virá entre vírgulas e, se estiver no final dele, aparecerá entre uma vírgula e o ponto que encerra o período. Está, portanto, correta a informação contida na letra dê. A letra e, que está no mesmo nível de simplicidade da opção anterior, afirma que a oração que estágio não é emprego completa o sentido do verbo dizer. De fato, o referido verbo é transitivo direto e tem como complemento direto a oração subordinada supra, transposta, ou degradada, para nível de substantivo (v. Moderna Gramática Portuguesa), que é a classe de palavra que assume a função de termo integrante. A oração é subordinada substantiva objetiva direta e, de fato, integra a transitividade verbal de dizer. Está correta a opção e.

Gabarito: letra bê.

3.ª Questão) Esta é questão que, como algumas anteriores, trata de pontuação, de referentes semânticos etc. Infelizmente, as provas de concurso têm o mau hábito de elaborar série de questões muito parecidas, que, portanto, não demandam conhecimento mais amplo do candidato. Na letra a, há a primeira discussão de morfologia; o verbo pôr e seus derivados são irregulares nos seguintes tempos do indicativo: no presente, no pretérito perfeito, no imperfeito e no mais-que-perfeito. A irregularidade desses verbos transmite-se aos demais tempos que derivam do presente do indicativo e do pretérito perfeito do indicativo, que são chamados tempos primitivos. No imperfeito do indicativo, o verbo dispor conjuga-se assim: dispunha, dispunhas, dispunha, dispúnhamos, dispúnheis, dispunham. Em “O Brasil não dispunha”, o verbo está, obviamente, no pretérito imperfeito do indicativo, e não no presente, como se afirma na opção. Está incorreta a letra a. Na letra bê, discute-se a possibilidade de inserir vírgula entre banais e pouco instrutivas. Este último termo é adjunto adnominal de atividades, núcleo do complemento circunstancial introduzido por em, e ademais é, morfologicamente, adjetivo restritivo, que não pode vir separado por vírgula(s). Como pouco instrutivas não é termo meramente explicativo, o emprego de vírgula implicaria incorreção; seria ainda mais incorreto empregar, como sugere a opção, apenas uma vírgula após o adjetivo banais, pois, entre os dois adjuntos determinantes de atividades, não há coordenação, senão uma ordem de constituintes imediatos (v. Moderna Gramática Portuguesa), que não permitem a sua separação deles por vírgula(s). Está incorreta a letra bê. A letra cê traz uma transgressão inédita (até nisso são criativos os elaboradores de prova de concurso!): dúvidas, como nome transitivo, regendo complemente nominal introduzido pela expressão no sentido em que. Tal expressão introduz, no mais das vezes, adjunto adverbial de modo, e não complemento nominal. O termo que integra o nome dúvida(s) é, em geral, introduzido pela preposição de. Tem-se, portanto, dúvida de algo, e não dúvida em algo ou, ainda mais estranho e errado, dúvida no sentido em que. A opção cê está incorreta. Na letra dê, aparece assunto bastante ventilado nesta prova, que são os referentes semânticos de termos na oração. O pronome possessivo seu refere-se à nova lei, e não ao ministro do trabalho Carlos Lupi. Isso é evidenciado pelo termo que antecede seu maior objetivo, o predicativo fruto de longo trabalho; decerto, o ministro não é o fruto de longo trabalho, mas sim a Lei do Estágio. A letra dê está incorreta. A letra e trata do significado da palavra discussão. Nesse caso, não significa contenda, altercação, mas sim o ato de discutir, de debater. Está correta a opção.

Gabarito: letra e.

4.ª Questão) Pontuação é outro assunto que os concursos não cansam de tratar duas, três, quatro ou mais vezes em uma mesma prova. Sobre a letra a, o emprego de vírgula após a palavra associadas é realmente obrigatório; vale lembrar que, quando se tem oração subordinada adverbial deslocada (seja ela reduzida ou desenvolvida), anteposta à oração principal, se faz obrigatório o uso de uma ou duas vírgulas para isolar a oração transposta. Como a oração subordinada presente no texto está no rosto do período, basta o emprego uma vírgula após a última palavra pertencente à subordinada. Seria também possível outra análise sintática: a oração reduzida de particípio pode ser classificada como adjetiva explicativa, o que também obriga o emprego de vírgula para isolá-la. Seja qual for a análise sintática, a vírgula deve obrigatoriamente aparecer após a palavras associadas. A opção a está correta. Na letra bê, discute-se o emprego de vírgula que isola a oração subordinada adverbial posposta à principal, ou seja, em sua posição mais comum (ordem direta). Sabe-se que, nesse caso, é facultativo o emprego de vírgula; somente o estilo de quem escreve ou a ênfase têm poder para decidir se haverá ou não emprego de vírgula. A letra bê está correta. Em questões do tipo, espera-se que a opção decisiva seja a mais intricada e a que mais exige do candidato; ocorreu, porém, o contrário: a opção cê, a decisiva, é justo a mais simples. Acentuação é assunto que todo candidato tem de saber de cor e discutir sem pestanejar. Os vocábulos estágio e diária são acentuados porque seguem a mesma regra: são paroxítonos terminados em ditongo crescente, também chamado equivocadamente ditongo gráfico por alguns gramáticos. O vocábulo após entra na regra dos oxítonos terminados em a, e ou o, seguidos ou não de s (ex.: , Feijó, alô, Dedé, mongoió, bidê, , Orós etc.). Vale relembrar que são acentuados também os oxítonos terminados em em ou ens (ex.: além, parabéns, aquém, também etc.) e nos ditongos orais abertos eu, ei e oi, seguidos ou não de s (ex.: céu, chapéu, coronéis, dói, lençóis etc.). Então, percebe-se que apenas os dois primeiros vocábulos, estágio e diária, seguem a mesma regra de acentuação, e não os três, como foi dito na opção. Está incorreta a opção cê. A letra dê está correta porque, de fato, o verbo provocar pode assumir mais de um significado; em alguns casos, pode significar dirigir provocações ou insultos, injuriar, e, em outros, pode significar gerar, ocasionar, produzir, que é o significado assumido pela palavra no texto (“... a nova Lei do Estágio ainda provoca [ocasiona, gera] dúvidas entre empresários e estudantes”). A letra e também é bastante simples. A retirada do acento agudo de dúvidas torna este vocábulo, materialmente, verbo flexionado na 2.ª pessoa do singular do indicativo presente, o que, obviamente, faria incoerente o trecho do texto em que aparece. Está correta a letra e.

Gabarito: letra cê.

5.ª Questão) Na letra a, inicialmente, já se percebe um erro: há três orações no período, e não duas, como foi dito. E as três estão ligadas apenas por relação de dependência, porque o período é composto apenas por subordinação. Existe uma oração subordinada adjetiva restritiva, determinante de todas as coisas, e uma oração subordinada substantiva objetiva direta, que integra a transitividade do verbo considera. A oração adjetiva é que nos cercam e a objetiva direta é que nós, ..., estejamos aqui por dádiva da criação divina. A oração principal é, obviamente, a que tem considera por núcleo verbal do predicado verbo-nominal. Está incorreta, portanto, a opção a. A letra bê não iludirá os atentos; a última oração, que é a subordinada objetiva direta já apresentada, tem predicado verbal e apresenta como núcleo deste o verbo estejamos, que (atenção!) é nocional, ou seja, não é verbo de ligação. Essa forma verbal apresenta evidente significação externa, não sendo, portanto, um mero instrumento gramatical. A significação interna, forte nos verbos de ligação, também chamados copulativos, não se apresenta do mesmo modo no verbo supra, que indica o processo verbal de estar materialmente, permanece no espaço que nos cerca, enquanto que o de ligação tem sua significação externa esvaziada, servindo apenas como elo entre o sujeito e o predicativo deste. O verbo estejamos, nesse caso, é intransitivo, visto que, obviamente, a ação de estar não permite transitividade, não passando a um objeto o que (claro) não existe para tanto. Como o verbo em questão é intransitivo, não pode ele estar na voz passiva. A sua voz é ativa, e o termo introduzido pela preposição por (não te enganes!) é mero adjunto adverbial de causa. Está incorreta a opção bê. Na letra cê, exagera-se. A palavra paradoxo não foi empregada com o sentido de antítese. Essa confusão que se faz entre as duas palavras, por sinal, não é nada recente; é possível que ocorra antítese sem haver paradoxo, também chamado de oximoro (vocábulo oxítono, e não paroxítono como querem alguns). Parodoxo é toda antítese que encerra contrassenso, ou seja, uma oposição ideal de conceitos, como, por exemplo, ocorre em “Brás Cubas, parece-me, vivia uma morte plácida” (viver a morte é um baita contrasseno). É importante que não se veja o paradoxo como um defeito de estilo por apresentar tal figura de pensamento um contrassenso ou um choque de idéias excludentes; em verdade, é recurso estilístico muito apreciado por vários escritores consagrados, clássicos ou contemporâneos. A antítese é qualquer aproximação de signos opostos, havendo ou não contrassenso; é, portanto, um conceito mais abrangente. A palavra paradoxo foi empregada, no texto, em seu sentido próprio, ou seja, o de contrassenso, e não como mero contraste antitético. Está incorreta a opção cê. A letra dê poderia ser marcada sem que o candidato tivesse sequer lido as demais opções; eis uma máxima, repetida quase ipsis litteris no texto. Não há dúvida de que a opção dê é a correta. Na letra e, o verbo residir, na acepção de consistir, é transitivo indireto e tem complemento indireto introduzido pela preposição em, que, no caso, é na relutância. Não tem, portanto, sentido completo o verbo em questão, exigindo objeto indireto que integre sua significação gramatical. A opção e está incorreta. Saindo um pouco do comentário desta questão, vale a pena, no entanto, discutir a transitividade do verbo residir na acepção de morar, viver, fixar residência. Será que, em orações do tipo Joaquim reside na rua onde morou sua tia, o verbo residir é intransitivo? É um questionamento que lanço ao leitor e com que a gramática escolar, infelizmente, se vê às voltas, não sabendo de onde tirar uma resposta coerente. Para não avolumar o texto com um assunto que não diz respeito aos comentários das questões, deixo ao leitor a tarefa de classificar o termo introduzido pela preposição em e o referido verbo quanto à transitividade.

Gabarito: letra dê.

6.ª Questão) Esta questão não se distancia, em grau de dificuldade, das demais. A opção a encerra erro claro, facilmente percebido quando se recorre à oração em que aparecem os verbos detém e registra. O sujeito desses verbos é o país. Não haveria justificativa alguma para acreditar que o sujeito dos dois verbos é indeterminado; basta lembrar que, para haver indeterminação do sujeito, formalmente, o verbo tem de estar na terceira pessoa do plural, não havendo referente algum, no texto, que possa ser um possível sujeito anteriormente expresso, ou, não sendo transitivo direto, tem de estar na terceira pessoa do singular, seguido da partícula se, chamada índice de indeterminação do sujeito. Como não ocorre nem um desses dois casos e o sujeito está explícito no texto, não há menor possibilidade de haver indeterminação do sujeito. A opção a está, portanto, incorreta. A única opção que trata de tipologia textual, que é a bê, fá-lo de modo pobre, sem mais explorar as características do texto. Não há aspecto algum de narração no texto; ele mais se aproxima da tipologia dissertativa, tanto pela estética, quanto pelo caráter argumentativo. A escritora discute a visão estreita de algumas pessoas quanto à teoria da evolução; explicita o paradoxo segundo o qual, nos Estados Unidos, embora haja tanta expressividade científica, 50% (!) dos estadunidenses acreditam que existem por mero critério religioso, ou seja, descreditam completamente a importância de Darwin para a história de nossa espécie. Está claro, portanto, que não existem aspectos de narração no texto. A opção bê está, portanto, equivocada. A letra cê está evidentemente correta; para confirmar o que nela é dito, basta recorrer à linha 14 do texto. A letra dê traz uma informação absurda. Nela se afirma que a forma plural da terceira pessoa do verbo deter, no indicativo presente, é detem (!). Isso mesmo! Sem acento algum! Do modo como o vocábulo está escrito na opção, ele passaria a ser paroxítono (!). Ora, é evidente que isso não existe nem aqui nem na lua! A forma plural correta é detêm, lembrando que o circunflexo tem o papel de esclarecer qual é a pessoa gramatical do verbo, e não apenas o de indicar a tonicidade do vocábulo. Isso se faz para evitar obscuridade gramatical. A letra dê está evidentemente errada. Sobre o que se afirma na letra e, o esclarecimento vem com a análise do trecho presente no texto. O termo sem precedentes é determinante de grau de conhecimento, com o qual forma sintagma locucional (v. Dicionário de Língüística e Gramática, de Joaquim Mattoso Câmara Jr.). Está errada a letra e.

Gabarito: letra cê.

7.ª Questão) Eis mais uma questão parecida. Nela se discutem aspectos da pontuação, da acentuação gráfica, da semântica etc. Na letra a, afirma-se corretamente que o acento no vocábulo país é obrigatório. A acentuação de país entra na regra do hiato, segundo a qual se acentuam o i ou o u tônicos, sozinhos na sílaba a que pertencem ou seguidos de s, que formam hiato com a vogal da sílaba anterior (ex.: juízes, raízes, baú, saída, destruído, saía [verbo] etc.); existe a exceção que se aplica quando a sílaba posterior à que possui o i ou u tônicos é iniciada por nh (ex.: rainha). A opção a está, portanto, correta. Na letra bê, a expressão O país refere-se a os Estados Unidos da América, e não ao Brasil. Na letra cê, a discussão semântica está equivocada. As palavras resistência, oposição e aversão são sinônimos de relutância, e não antônimos, como foi dito na opção. A letra cê está errada. Quanto ao que se afirma na letra dê, para responder corretamente, basta lembrar que período não é encerrado a gosto de quem o escreve. Encerra-se o período quando uma parte da informação é concluída e há necessidade de, em outro período, introduzir outra dentro de um mesmo assunto. A ideia do primeiro período é a apelação, ou seja, é atrair a atenção do leitor para o que será dito. Logo após, é sensível a pausa que se segue ao fim do período, o que indica que não é possível o emprego de vírgula, que equivale, em princípio, a pausa mais curta que a do ponto. O período seguinte introduz novas informações, que estão dentro do mesmo assunto. Por tudo isso, a informação contida na letra dê não está correta. A letra e afirma que o período em que se destacam as qualidades dos Estados Unidos como potência científica antecipa o que é dito na adversão que se dá no período ulterior. O caráter adversativo dá-se apenas quando se lê o período em que se afirma que metade dos estadunidenses não acredita na teoria da evolução. Não é, portanto, correto afirmar que ocorre antecipação. A letra e está errada.

Gabarito: letra a.

8.ª Questão) É importante perceber que a questão pede apenas a análise ortográfica das palavras; não é necessário analisar a correção das estruturas sintáticas. No item I, grafou-se mal a palavra ancioso. Nela se empregou c em vez de s. Para atentar no erro, basta lembrar que essa palavra é formada por derivação sufixal. O sufixo -oso forma adjetivos a partir de substantivos (ex.: jeitoso [jeit(o) + -oso], gostoso [gost(o) + -oso], manhoso [manh(a) + -oso] etc.); o substantivo de que se derivou o adjetivo ansioso é, obviamente, ânsia, o que indica a presença de s, e não c, na adjetivo derivado. No item II, ocorre um erro muito grosseiro, que se deve à má pronúncia das palavras, ou seja, à corrupção da ortoépia. Esse tipo de erro, a má pronúncia, é um barbarismo chamado cacoépia. Daí provém a cacografia indentidade, presente no item. No item III, não existem transgressões ortográficas, mas sim uma transgressão grosseira de sintaxe de pontuação (a segunda vírgula não existe) No item IV, também não existem cacografias, ou seja, transgressões ortográficas. Então, quanto à grafia das palavas, os dois únicos itens corretos são o III e o IV.

Gabarito: letra e.

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A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.