sábado, 1 de setembro de 2007

Em curta passagem de enredo, estoura a cólera.

A priori, não identifiquei a fonte de tamanha confusão. Movido pelo temor escancarado nas faces das mulheres, trespassei ao lado da rua onde eu não podia ser visto por nenhum daqueles que ali estavam. Estava inquieto por duplo motivo: o atraso de minha condução, creio que haja conduções em plena madrugada de um domingo, e a debandada de vozes roucas e autoritárias mescladas aos gritos femininos que me mordiam os ouvidos. Agora, que o apaziguar das ações clareou-me a vista, noto a surra que duas moças levam na calçada oposta à fachada da "dancing"; impiedosamente três homens rotos, que espumam mais que os raivosos cachorros erradios que habitam as ruas nas madrugadas de Copacabana, espancam moças já deformadas pela profissão que lhes foi imposta, que é saciar os instintos animalescos dos homens; era o que diziam seus trajes fadados ao mister de serem retirados por outrens.

Costumo passar por esse cruzamento, ao voltar do trabalho, mas nunca notara a presença desses tipos, que agora saem presto em carro de luxo. É impressionante como os fatos são elásticos, pois parece que a cena retornou à diversão da danceteria, que ainda abriga pessoas que, indiferentes ou desconhecidas do fato, fruem da dança. Mais sossegado, atravesso a rua e sigo o meu rumo em busca de algum outro ponto de trajeto de alguma condução. Agora, quase uma quadra de distância da danceteria, escuto o barulho de uma explosão vindo de dentro, ou provavelmente dos arredores, daquele local. Foi a gota d'água que me transformou o dia em pesadelo, pois o meu falso julgo do que motivou a incipiente confusão dava-me sinais da muito recorrente violência do Rio, logo não achei que aquela confusão, aparentemente abafada, tomaria grandes proporções. Foi certamente uma bomba, não tive coragem de voltar. [...]

(Por Gustavo Henrique S. A. Luna)

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A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.