segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Crônica: Crônica rápida, pois o tempo é curto e viperino!

Costumo andar pelas ruas desta grande cidade imaginária, que é constuída e demolida, a cada dia, pelo tempo cruel. Como, bebo, falo e, enfim, vivo o tempo dos homens que correm, crescem, caem e explodem. A agitação dos meus avós, quando jovens, era tempo de eleição ou chegada de circo, mas agora o sono é coisa rara, a reflexão brota de fontes escassas; são privilégios de quem possui dinheiro. Ainda bem que eles, meus avós, já morreram em calmaria, pois teriam morte mais cruel em tempos hodiernos.

Eu, quando estou indo à faculdade, também corro, mas para não ser pisoteado. É a hora do encilhamento! É corrida de rota traçada, o modelo automático, às sete horas matinais. Não encontro amigos nesse enxame, pois há horas, minutos e segundos reservados para eles. Às vezes, paro, quando ainda rezo e preparo o meu pouco sono, e percebo as crueldades do tempo, que nos lassa o corpo e só nos mostra a sua corrupção em tal momento. Ah! Lembrei que assim dizia meu avô: "O sono, meu neto, é o protótipo da morte". Só agora percebo que, contrariando-o, vivo apenas aos domingos e enquanto durmo, e ele assim falava, pois cedo madrugava. Aos domingos, quando tenho uma eternidade azul à minha espera, enlatada em poucas horas, sinto-me ausente das responsabilidades da semana e procuro jornais velhos (ora! todos os jornais são velhos!), escritos que me façam ir contra o tempo; é momento de anarquia pessoal à semana morta, cujo réu confesso é o odioso deus Cronos. A liberdade que, longe do vento efêmero trespassando as ruas, mostra-me agora o momento da escrita, o velho álbum de família e os antigos contos de meu avô, que, com eterna calma, tomava o seu café, enquanto os escrevia (Oh! grande presente deixou-me, esses contos amarelos); assim não mais fará daqui a algumas horas. Surge, então, o meu desespero, que é ver a minha quase mãe despedir-se serena e triste, em noite moribunda; é a partida do meu afago, de minha paz e de mim mesmo.

(Por Gustavo Henrique S. A. Luna)

Obs: Escrevo os outros que me visitam a mente, roubam-me o tempo e abastecem-me o repertório narrativo, não só para esta crônica, que é fruto de um limite de 30 linhas em folha de redação, mas para as futuras que serão maiores, mais livres e mais reveladoras. Lembro-vos que não há semelhança alguma entre esses outros que vos conto e mim. Quem sabe, quando estiver mais maduro, escreverei sobre minha infância, minhas traquinagens e outras coisas que presenciei. Penso ainda em escrever sobre meu pai e as histórias de sua infância. Sou ainda muito jovem e tenho, pois, de viver muito para compor melhor meu repertório. Um abraço deste que vos escreve, e agradeço-te, leitor acidental, que topou com este blogue e passou a odiá-lo ou a estimá-lo.

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A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.