"Escrotidão" poética, pornografia versada, distorções históricas poético-delirantes e prenhes de pseudo-nonsense, métrica ilibada, voz trovejante de bardo nordestino, anéis por todos os dedos, poesia pra todos os lados. Seus trajes aberrantes, sua viola, seu matulão pendurado. Esse aí não é ninguém não, é Zé Limeira, o mais mitológico dentre todos os repentistas surgidos no Brasil. Tem gente que até hoje acha que ele nunca existiu. “Vai ver foi um personagem criado pela cabeça fantasiosa de outros repentistas”, diriam os incautos.
O compêndio poético de sua obra só chegou ao conhecimento das novas gerações graças ao abnegado trabalho de pesquisa realizado pelo advogado e escritor Orlando Tejo, que resultou no livro "Zé Limeira, poeta do absurdo". Os dois se conheceram em 1950 e o encontro entre narrador e narrado é assim descrito pelo primeiro: “Foi numa nublada tarde de sábado que ouvi pela primeira vez José Limeira. Cantava em sombrio casarão da Rua Manuel Pereira de Araújo, movimentado centro do baixo meretrício, em Campina Grande. Chamou-me a atenção a dimensão do óculo (sic) exageradamente escuro que, havia 20 anos, inspirara este espirituoso repente de Severino Pinto:
Nestes dias vou fazer/ Como o nosso Zé Limeira:/ Comprar uns óculos escuros
Desses de tolda de feira/ Botar o bicho na cara,/ Sair cantando besteira"
Alcunhado de poeta do absurdo pelas suas construções poéticas verborrágicas e pelos neologismos mais esdrúxulos como pilogamia, filanlumia e filosomia, este paraibano de Teixeira cultivou um surrealismo assertanejado e altamente psicodélico, como confirmam estes versos:
Casemo no ano de 15
Na seca de 23
A mulher era donzela
Viúva de sete mês
Mais não me alembro que tenha
Um dia ficado prenha,/
Estado de gravidez.
Para obter mais informações sobre Zé Limeira, visita esta página: http://www.facom.ufba.br/pexsites/musicanordestina/limeira.htm
Algumas de suas poesias:
Sem título O meu nome é Zé Limeira Ninguém faça pontaria Ainda não tinha visto A beleza continua Sei quando Jesus nasceu, Um dia o Reis Salamão Zé Limeira quando canta Eu só gosto dessa moça Foi quando Tomé de Souza Eu me chamo Zé Limeira, Se tu for na minha casa Eu me chamo Zé Limeira | Mote: Diz o novo testamento Minha muié chama Bela Eu vi uma gavetinha Jesus nasceu em Belém, Foi pará no Entroncamento |
A Antítese do Sinônimo Não faz sentido Vou te dar dinheiro Sou o crime que pratica o réu Sou uma pessoa pobre | Apocalipse de Zé Limeira Quem acha que é preciso Eu vejo que é muito frágil Eu vejo o apocali-psicologia profunda Pressinto nuvens escuras Um amuleto divino Eu vejo no apocali-psicologia profunda |
Versos avulsos: Eu me chamo Zé Limeira Jesus foi home de fama Napoleão era um É difícil um home moco São Pedro na sacristia Quando Jesus veio ao mundo Saíram lá de Belém Aonde Limeira canta Carmelita e Carmeluta Um General de Brigada, | Versos avulsos: Getúlio Vargas morreu No tempo do Padre Eterno Mais alguns versos avulsos: No sereno sertão da Palestina Limeira só canta toada bonita |
(fonte: Música Nordestina e Jornal de Poesia)
Comentário: Caso queiras mais informações sobre Zé Limeira e sua obra, há ainda esta página do poeta Orlando Tejo:
zé limeira é um poeta
ResponderExcluirque rima a hipocrisia
mete o pau em jesus cristo
fala da virgem maria
nada disso é de outro mundo
nem absurdo também
inventar é do poeta
fale mal ou fale bem
aparicio é meu nome
moro no rio de janeiro
não creio em lobesomem
só no que vejo primeiro
muito bom esse poeta ,
ResponderExcluirrima tudo com o nada
rima bosta com qualhada
faz a rima como pedra
duro que so a ganzela
feito carreira sem leira
viva o gande ze limeira
poeta da vida eterna
Ola, reis massa seu blog! du carai mesmo...
ResponderExcluirCurto muito Zé Limeira, fiz um Repente tipo os deles, guardandi clero as devidas proporções...
C...)
Assaré sujeito honrado
Go go boy a noite
Durante o dia é macho
Patativa é passo brabo
Sorria você esta sendo filmado
Arriégua desconjuro vai de reto
Tudo em vinte quatro vezes sem juro
Raquel poetisa quente
Diz que Fariseus não é gente
Raça de corno
Diz o eleitor
Votar é obrigação
Eleger é abrir mão da salvação
Explica Frei Damião
(...)
Ele por completo no meu blog, abraçao reis!
Vejam os poetas aparecendo nestes comentários. [rs.]
ResponderExcluirAbraço, magote de gente inspirada!