sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Poesia: O vetor são os teus olhos, do atroz vírus do Amor.

    Um quadrão sem o estribilho final evidentemente não é um quadrão. Para não blasfemar contra o rigor desse gênero popular de poesia, assim não chamo esses oitos pés que fiz agorinha, apesar de os elementos da versificação estarem interiços. 

   Dedico estas linhas ao olhar perigoso, contagioso, das moças fagueiras, que contaminam de amor o mundo que uns tantos teimam em enfear.

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O vetor são os teus olhos,
Do atroz vírus do amor.

(Gustavo Henrique S. A. Luna)

 

O olhar é uma facada,
De peixeira enferrujada,
De amor contaminada,
Desvirtuando o meu ser.
Desse mal padecerei,
E a ele me entregarei,
Dele só me livrarei,
Quando de amor eu morrer!

Dessa doença eu padeço
Pois quero, com todo o apreço,
Essa chaga, que eu mereço
Ser moribundo de amor.
De moribundez eterna
Minha feição é subalterna
Ao mal que sempre governa
E é nobre guerreador.

Doencinha perigosa
Fingindo ser mui manhosa
Com os olhos dedilha a prosa
De rico vocabulário.
São duas glosas de amor,
Obras de Nosso Senhor,
Dois olhos de tal fulgor
Merecem proprietário.

Uma pugna em que eu luto
Seguindo um regime bruto
E com dois olhos disputo
A graça da moça inteira.
Me vendo, ela não se rende,
Com gosto, o corpo me prende
Faz vinco na alma, fende,
Com violência fagueira.

Pois que seja eu o dono
E tire do abandono,
Depois coloque num trono
Essas duas joias raras.
Que assim terão bom destino
Esses dois globos divinos,
E neles eu descortino
Do mundo as belezas caras.

É um misto de enlace e guerra,
Contenda que não se encerra,
Só finda quando soterra
O mais feliz perdedor.
Diz que então morre contente,
Pois de amor foi um doente,
Contraiu por acidente,
O atroz vírus do amor.

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A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.