segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sugestão musical: Machiavel - Jester (EIM 1976)

Machiavel foi banda belga de progressivo sinfônico, que se mostrou bastante sólida, complexa e melódica. Jester foi o segundo álbum do grupo e um de seus clássicos lançamentos. A música é exuberante e atmosférica, com muitas demonstrações de bom uso de guitarra e de teclado (sintetizadores, Mellotron, moog e piano elétrico); a banda soa muito comum ao rock progressivo sinfônico europeu do final da década de setenta. A principal influência da banda parece ser Genesis, banda britânica de mesmo gênero; Machiavel, entretanto, incorporou também, nas porções mais cativantes das canções desse álbum, muitas características do piano elétrico aos moldes da Supertramp, outra banda britânica. Por alguma razão estranha, eles puseram a única faixa mais fraca no rosto do álbum, como faixa inicial. Wisdom é espécie de faixa inestante e soa, em parte, como algumas bandas tediosas do chamado neo-progressivo. Não te assustes, porém, com o fato de haver forte desazo inicial, visto que o restante do álbum revela excelentes canções. A faixa título mostra-nos muito bem todas as faces da banda, trazendo passagens instrumentais belas, sinfônicas e melódicas que permanecem associadas às porções cantadas em rara simbiose musical, que decerto é aderida à memória presto e forte logo na primeira audição. Sparkling Jaw e In the Reign of Queen Pollution são outros exemplos dessa combinação, enquanto Mr. Street Fair é faixa mais puramente sinfônica. Tirante o desazo inicial, a faixa Wisdom, Jester é álbum maiúsculo e recomendado a todos os fãs de progressivo sinfônico.

Faixas:

1. Wisdom (6min)
2. Sparkling jaw (7min)
3. Moments (3min17s)
4. In the reign of queen pollution (6min56s)
5. The jester (5min20s)
6. Mister street fair (7min55s)
7. Rock, sea, and tree (9min52s)
8. The birds are gone (1min49s)
9. I'm nowhere (2min22s)

(fonte: vintageprog.com)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Gramática: questão de concurso.

Eis uma das questões de concurso mais interessantes que já apareceram no fórum SOLP. Ela trata puramente da análise da correção de trechos extraídos de um edital de licitação. O que mais me atraiu nessa questão foi a sutileza do deslize cometido numa das opções, que representa, obviamente, aquela que deveria ser marcada. Cá está o tópico em que ela apareceu:

Marque o trecho com erro de natureza sintática.

a) Poderão participar da licitação pública regulada por este Edital pessoas físicas ou jurídicas, associadas ou não, domiciliadas ou estabelecidas em qualquer parte do território nacional, exceto os diretores, membros efetivos e suplentes da Comissão de Licitação.

b) Em se tratando de participação em Licitação Pública para aquisição de imóvel unifamiliar, o(a) licitante deverá comprovar, no ato da assinatura da Escritura, que não possui nem possuiu, nos últimos 12 (doze) meses, imóvel de uso residencial no Distrito Federal.

c) À Terracap é reservado o direito de não efetivar a venda, na hipótese do não-cumprimento de quaisquer das providências indicadas neste Edital, sem prejuízo das demais medidas aqui previstas.

d) Fica a Diretoria Colegiada da Terracap autorizada a alterar a data da licitação, revogá-la no todo ou em parte, excluir itens em qualquer fase do procedimento licitatório, em data anterior à homologação do resultado, sem que caiba ao(s) licitante(s) ressarcimento ou indenização de qualquer espécie.

e) O licitante interessado, antes de preencher sua proposta de compra, deverá inspecionar o lote de seu interesse, para inteirar-se das condições e do estado em que se encontram, podendo recorrer à Terracap para obter informações mais detalhadas e precisas.

(Edital nº 04/2004, Licitação Terracap, com adaptações)

Olá, ***. Agradeço-te, antes de tudo, a excelente questão que nos trouxeste. Ela exige de quem a revisa a máxima atenção a fim de que possa notar o pequeno deslize de concordância na opção e. Repara que há a forma verbal se encontram flexionada de modo incorreto, visto que o referente sintático é a palavra lote. O verbo deveria ficar, pois, no singular. Nota também que a palavra se, próxima ao referido verbo, não é parte integrante dele, mas sim uma partícula apassivadora; o verbo não é pronominal, é transitivo direto. A palavra lote seria, então, o sujeito paciente implícito na oração. Ex.: (...) em que o lote é encontrado (em que se encontra). O trecho totalmente corrigido ficaria assim:

"O licitante interessado, antes de preencher sua proposta de compra, deverá inspecionar o lote de seu interesse, para inteirar-se das condições e do estado em que se encontra, podendo recorrer à Terracap para obter informações mais detalhadas e precisas."

Um abraço, ***, e até outros tópicos.

domingo, 1 de junho de 2008

O prato amargo.

    Na sociedade hodierna, há notável apatia dos sentidos dos homens, visto que eles não têm tempo suficiente para praticá-los; a máquina que os governa exige resposta presta e exata: não há o que sentir. Os princípios de humanidade, ou suas atitudes moribundas, remanescentes, são subjugadas todos os dias pela concorrência entre os homens que comem o pão de cada dia e não notam que consomem muito mais que isso; a escatologia humana é o prato consumido sem sal e os que se servem não sentem o sabor amargo da comida.

    Os conceitos que regem o homem do novo século são outros e os princípios do homem natural, pintado por filósofos da Ilustração, são projetos demasiadamente utópicos, cujo escopo tem-se distanciado da realidade gerida pelo capital. O homem, hoje, é vítima de si mesmo e o seu lema é o individualismo. De toda essa conjuntura social, o que mais me assusta é a dormência da sociedade diante dessa situação programada, mecânica, em que o homem mais parece uma peça de jogo de xadrez. Posto que os princípios naturais do ser humano não se mostrem com a devida freqüência nos dias de hoje, a situação não se limita à morosidade social e, pior, há, em verdade, uma inversão de conceitos: o bizarro, por exemplo, não mais choca o indivíduo acostumado a cenas de depravação humana e olvidado do conceito de beleza.

    A violência, sob as suas diversas faces, aparece-nos diariamente na televisão, no trajeto dos que vão trabalhar e até no mundo bem pintado, sem máculas, das crianças que são vítimas de sua inocência. A corrupção, não só a sua versão mais ventilada, que é a política, senão em sentido amplo, colabora, quando bem calada, com a banalização da violência, tornando o incidente escatológico um fato corriqueiro.

    O cenário de uma sociedade corrompida é o fruto mais devastador de causas que nos remetem à origem da dominação entre os homens, um traço obscuro da nossa história cuja determinação não é pontual e está longe de ser clara. A análise superficial da sociedade em que vivemos ilude os muitos que tomam o bonde para seguir o jogo cujo fim é determinado antes mesmo de a partida começar e, junto à cacotanásia diária que passa despercebida aos olhos de tantos, representa o contraste dos extremos de uma só paisagem: a exaustão da humanidade e de seus princípios.

(por Gustavo Henrique S. A. Luna)

A imagem de cabeçalho é montagem de algumas obras do pintor belga Jos de Mey.